Fonte: Revista Cobertura | Carol Rodrigues
Das dez preocupações que afligem o mercado global de seguros, no Brasil os profissionais podem focar distribuição, tecnologia e longevidade, conforme debate da APTS
A crise europeia, a recessão em algumas economias, a baixa taxa de juros, o modelo regulatório, a preocupação com inflação em médio prazo, as mudanças tecnológicas, o aumento de longevidade, os desafios na distribuição, as mudanças climáticas e os investimentos das empresas nos países emergentes. Essas são as dez preocupações que afligem o mercado mundial de seguros, das quais três devem ser pensadas tanto por corretores como seguradores no mercado brasileiro.
Os pontos foram apresentados por Francisco Galiza, diretor da Rating de Seguros e consultor do Prêmio Cobertura-Performance, durante o Debate do Meio-Dia realizado ontem, 27 de março, na APTS, cujo tema foi “O futuro do mercado de seguros”.
Um dos itens principais é o desafio na distribuição e está relacionado a internet pode afetar o mercado de seguros. Galiza trouxe a reflexão à tona ao utilizar o exemplo do Reino Unido, em que as vendas de seguro automóvel pela internet chegam a 40%. “Por um lado, o consumidor está mais satisfeito, mas houve o aumento de fraude, a queda na rentabilidade e a guerra de preços das seguradoras”, exemplificou.
“Hoje, o modelo de internet e distribuição ainda está sendo discutido; talvez o ideal seja uma estrutura híbrida para unir o melhor os dois mundos”, indicou o economista, em cuja opinião o Brasil é criativo e agressivo neste aspecto, já que conta com várias formas de distribuição.
Marcos Scherer, superintendente da Bradesco Auto/RE, frisou a força do canal corretor dentro do processo de distribuição de seguros. “Precisamos pensar em alinhar produtos na perspectiva do que o consumidor realmente espera dentro de uma oportunidade que possa ser gerada pelo mercado. No Brasil, a internet ainda não é estatística, mas, sim, um modo de captação de clientes. O corretor tem de usá-la como forma de interagir mais com o cliente”.
O executivo da Bradesco acrescentou que acompanhar tendências de forma rápida é uma necessidade das seguradoras. “Eficiência é parte fundamental para entender qual é a forma de consumo de um cliente que se comunica o tempo todo. Temos que olhar para o futuro com a chamada tecnologia, mas, principalmente, como, a partir dela, mitigar os riscos, enxergar oportunidades e aumentar nossas vendas”.
Segundo Galiza, a mudança tecnológica abrange todos os mercados, mesmo que chegue ao Brasil após um período e também pode alterar a forma de contratar e desenhar apólices. “Em 2025, teremos carros sem motorista em operação. Na Califórnia, por exemplo, já está se fazendo legislação com essa possibilidade. Isso trará uma mudança na forma como será feito o seguro”.
“Precisamos pensar do ponto de vista do que a tecnologia pode gerar de valor na gestão dos recursos da empresa, na perspectiva de gerar cross seling para o corretor, a identificação de novos nichos de distribuição e a inovação passa a contribuir”, sugeriu Marcos Scherer, superintendente da Bradesco Auto/RE.
Para Luiz Morales, presidente da União dos Corretores de Seguros (UCS), os corretores enfrentam hoje percalços como a falta de produtos para atender as necessidades do consumidor, o que em suas considerações podem ser agravados no futuro. Ele citou uma pesquisa da IBM em que é destacado que as pessoas compram de pessoas. “A companhia gera valor quando antecipa necessidades. O corretor precisa ser mais ágil. A confiança nas seguradoras é baixa, depende da figura do corretor”, disse, ao descrever o relatório da IBM. “Temos que ter qualidade melhor de atendimento. A ferramenta é a internet”, alertou Morales.
Em sua visão, o segurador está distante do corretor. “A nossa sobrevivência é a venda consultiva. Os produtos são parecidos, a diferença é o corretor. Ele precisa interpretar ferramentas e entregar soluções para o cliente final”.
A opinião de Scherer vai ao encontro da posição de Morales, ao sugerir o foco no cliente e não no produto como um ponto para o corretor se diferenciar na venda.
Longevidade
Um dos pontos que interfere no mercado brasileiro é o aumento da longevidade, pois gera custos para empresas e sociedade. Galiza mencionou um estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) que aponta que um aumento de três anos na expectativa de vida da população de países desenvolvidos implica em um aumento de 50% do custo, enquanto nos países em desenvolvimento, caso do Brasil, chegaria a 30%. “É um aspecto a ser estudado”.
Scherer lembrou que o aumento da longevidade é também uma oportunidade para consumo de seguros, que necessita ser interpretada com base na faixa etária. Além destes pontos, o mercado brasileiro também é afetado pela queda na taxa de juros, o modelo regulatório e inflação.